As atividades da semana, leituras, o tempo e uma reflexão a mais

Então hoje é sexta-feira, dia de balanço final. O que fizemos durante toda a semana? Eu não sei você, mas eu fiz tanta coisa. Passei tantas roupas, as louças, não sei aí na sua casa, mas aqui elas possuem a descarada capacidade de procriação, mas apenas na pia, porque quando você realmente precisa de uma baixela, ela não existe. Vamos traduzir um pouco melhor, supondo que a casa fosse uma linha industrial, teria produzido milhões. Só que não. Segunda feira a linha começa novamente, e tudo se repete, e aquela canseira e os infinitos questionamentos de se é isso mesmo, se esta valendo o tempo, a dedicação. Mas então, você pega seu conjunto de chás Limoge, prepara um chá quente de flores e frutas acompanhado de sequilhos de Minas Gerais e enfim, senta-se para saborear a vida. Enquanto isso, ao olhar para alguma janela, vê-se os pingos no vidro, a sujeira que escorre, tem que ir limpar. TEM QUE IR LIMPAR??? OHHHHHHHH ceos, traga-me a terra por favor.

Nas últimas duas semanas, meu marido que viaja constantemente, esteve mais em casa, que lê-se, esteve trabalhando no escritório que fica por algum lado na Região Metropolitana de São Paulo, sendo assim, ele toma o café da manhã em casa e, depois de umas 14, 16, 18 horas de trabalho, se facilitar ao infinito, ele volta para jantar, dormir, melhor, deitar. Tenho brincado (com ares de séria) com ele, que preciso conhecer o chefe dele e fazer um estrito pedido de mais viagens. Por que? Pobre coitado. Quando eles viajam muito, e é o que se passa aqui em casa, você estabelece uma rotina que se encaixa entre você e as crianças, ou a criança, no meu caso as, porque conto o meu York também. A questão do jantar por exemplo, as muitas e infinitas camisas para passar e segue a lista.

Por exemplo, em Março, ele viajou constantemente, consegui ler 22 livros. Não vire os olhos por favor, não eram tratados filosóficos, muito menos de física sei lá das ‘quânticas’. Em Abril as viagens diminuíram, consegui ler apenas 15, e agora em Maio onde praticamente não viajou, a leitura caiu pra 5 livros. Trágico, estou quase passando mal, me faltam palavras ao sangue como cocaína a um viciado. Rá. Mas não foi apenas por isso que as leituras decaíram tanto. Também inventei que iria escrever, escrever, escrever ou melhor, maltratar a pobre Língua portuguesa, e convenhamos, de algum lugar este tempo ‘blogando’ teria que ser tirado, afinal as horas não se estenderam para 90 ou 120 minutos que era o que eu precisava, mas pensando melhor as camisas continuariam ali para serem passadas, com o qual cada hora de 60 minutinhos esta ótimo.

Hoje, enquanto entregava minhas madeixas às mãos de uma habilidosa cabeleireira, lia O Tempo é um Rio que corre, um livro de memórias de Lya Luft. Escritora gaúcha, poetisa, romancista, tradutora, cronista da Veja. Neste livro ela nos traz um minucioso exame do tempo, desde a infância, adolescência, juventude, a passagem pra vida adulta. Toda a escrita é como uma luva de pelica, delicada, que afaga, que faz pensar, questionar. E lá, bem no profundo da alma, todos sabemos, façamos isso aqui valer a pena. Mas o que é isso? É fazer ao menos em algum momento aquilo que se gosta. Pintar, ler, escrever? Olha eu aqui. Tenho medo da crítica alheia, não sei lidar com ela, nem com a bem intencionada muito menos com aquela que é despudoradamente maldosa. Mas gosto de ler, e gosto de escrever, de forma simples, descomplicada, como eu. O que não quero, é olhar o tempo, que já me é tão palpável no espelho e dizer: não fiz o que queria, nem ao menos um dia. E você?

Por hoje, ficamos assim. O tempo, o das horas, o das rugas, o das fineses e das imperfeições da alma, se escancara sobre mim. Se encontra num leito de hospital minha sogra, do outro lado do atlântico. Em Porto Alegre, é minha mãe que convalesce em outro hospital. Enquanto isso, não há como não pensar no que sou, no que consigo ser, o que faço ou deixo de fazer. A semana? As semanas. Uma hora? As horas. Um acúmulo de tarefas infinitas e intermináveis. Empresto da Lya Luft o título do seu livro, uma poesia que poderia condensar 150 páginas apenas nestas palavras: O Tempo, é um rio que corre.

Restam nos as memórias, enquanto claro ela também não resolver nos abandonar. Hoje, enquanto tomávamos o café da manhã, fiquei olhando sentada no sofá já grudada no Ipad nossa menina que faz 9 anos dentro de pouco tempo. Já crescida, ela é uma criança vivaz, abençoada, linda. Meu marido me pegou olhando e riu. Areia que escorregou por entre os dedos, é tempo que foi.

Glorie para o tempo!

Glorie para você! 

Glorie para nós!

By Irene Afonso

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5 respostas para As atividades da semana, leituras, o tempo e uma reflexão a mais

  1. Alessandra Schmoeller disse:

    Tão real e vivo o que vc escreve…muito bom ler e saber que ainda existe vida e vida
    real!!!

  2. Andrea disse:

    Inspiradissima hein!?! Amei. Mais uma vez…

    • Ai guria…eim, obrigada viu. Sabe, a gente fala que vai escrever porque vai escrever, porque gosta e aquele discurso todo…mas ai, quando vem alguém e comenta, é tão bommmmmm… rsss. E melhor ainda, quando são pessoas como você, que sei que possui imenso conhecimento, discernimento e por ai vai. Bom fim de semana na China.

  3. Débora disse:

    Fantástica essa analogia do rio. Lembrei daquele pensamento, sei lá onde li, que você nunca entra no mesmo rio. Porque ele está sempre diferente, e principalmente, porque nós também estamos em constante mudança. Bah… como mudamos… e por favor, que não nos abandone a memória. A minha, sinceramente, tem guarda compartilhada com sei á eu quem. Credo…

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